O FOTÓGRAFO DA MADEIRA - António Breda Carvalho
(Romance) Oficina do Livro, 2012, 286 págs.
Como leitor atento, às vezes, um pouco minucioso, tenho para mim que um
bom livro é sempre aquele que interroga o leitor, que questiona a sua
sabedoria e que acrescenta valor em ensinamentos/aprendizagem; digamos que um
bom livro é aquele que nos fica na memória por muito tempo, porque o sentimos
e reescrevemos enquanto viajámos nele e com ele. O “Fotografo da Madeira”, de
António Breda Carvalho (ABC), tem esse condão, conseguido através de uma
narrativa fluente, salpicada de frases com grande conteúdo literário,
mesclado de uma sintaxe rica e adaptada ao contexto temporal e espacial em
que decorre a narrativa.
A prova do que se acaba de referir está na imagem do livro acabado de
ler: com a ponta do lápis foi riscado, sublinhado e anotado, deixando agora sim,
pouco espaço em branco, com frases manuscritas nas margens e nas páginas
finais (local predileto para anotações). No final da
leitura/estudo/aprendizagem, por caminhos de prazeroso deleite literário
deste “Fotógrafo”, o escrevedor destas linhas dirigiu-se à estante cá de
casa, e fez uma análise de circunstância comparativa a outros livros do
género outrora lidos em idênticas circunstâncias. Então, foi com algum
espanto, que se constatou, que alguns romances históricos como o “Equador” ou
“A Filha do Capitão”, não apresentam tantos sublinhados e riscos a lápis de
leitor, o que induz menor qualidade literária, comparativamente com “O
Fotógrafo da Madeira”. Mas direi mais, é que a dada altura me senti como que
a reler os clássicos de Eça e de Camilo, embrenhado em ambientes e linguagens
com afinidade à época oitocentista, idêntica àquela que se desenrola esta
ação na Madeira.
Portanto, o primeiro lugar no pódio do Prémio Literário João Gaspar
Simões encaixa que nem uma luva, é merecido o galardão literário, tendo como
teve concorrência de monta, não só em qualidade como em quantidade. O autor
de “O Fotógrafo da Madeira” surpreendeu, também, porque conseguiu vestir com
riqueza (exterior e interior) as personagens, porque é dono de um singular
espírito criativo, e, por vezes, uma trama surpreendente (na pág. 40),
aquando da entrevista de Laura para ingressar no consulado, em que deixa o
leitor suspenso sobre se fica ou não com o emprego, culminando num diálogo
simples de aceitação, um diálogo de mestre.
Existe também um grande equilíbrio na narrativa, embora, quase no final
da pág. 268 e seguintes, talvez pudesse evitar, de novo, aquelas explicações,
pois já existiram antes, ou se não existiam, subentendiam-se, ficando mais
rica a obra literária com essa construção interna do leitor.
Em suma, ABC apresenta um excelente domínio do diálogo, uma vivacidade na
circulação das personagens no espaço (como se tivesse vivido lá, à época),
com uma caraterização madura do tempo e dos cheiros, num romance quase sem
mácula.
António Canteiro
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Sobre O FOTÓGRAFO DA MADEIRA
António Canteiro, autor dos romances premiados Ao Redor dos Muros e Largo da Capella, ambos editados pela Gradiva, leu e comentou o meu romance.
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