Tem algum método
de escrita?
Tento cumprir o tempo destinado à
escrita, almejando alcançar o número de páginas previstas para cada sessão de
trabalho. Escrevo linearmente, construindo o romance como quem edifica uma
casa: dos alicerces para o telhado.
Faz algum esboço
das personagens e da trama?
Cada romance é escrito a partir
de uma grelha previamente elaborada. Tal como a planta de uma casa: cada divisão
é um capítulo, cada capítulo é um conteúdo. É por aqui que me oriento. Parto da
ideia, num capítulo, mas não sei que forma e matéria terá. É caso para dizer
que a história se autodetermina.
Faz muitas pausas?
Faço as pausas a que estou
obrigado por imperativos profissionais e familiares. Tento evitar interregnos extensos
para não quebrar o ritmo de escrita. Por este motivo, não há lazer nos fins-de-semana.
Espera pela
inspiração?
Não. Vou ao encontro da
inspiração durante o processo de escrita. A criatividade não nasce nem cai do
céu; é gerada por estímulos
intelectuais. É preciso procurá-la. Mas só a encontra quem a tem.
Escreve a
computador ou à mão?
Computador. O Word permite-me ter
boa perceção da estrutura do texto.
E neste momento, estando obcecado
comas correções, o Word tem a vantagem de poder saltar de um lado para o outro
com facilidade.
Usa um tipo de
letra específico?
Times New Roman, tamanho 12.
Tem manias, como
acabar sempre uma página, por exemplo?
Gosto de acabar uma sessão de
trabalho com a página completa. Mas prefiro fechar o Word depois de ter completado uma sequência
narrativa, mesmo que isso implique uma página incompleta.
Pensa logo no título
ou surge depois?
Primeiro penso na ideia geral do
romance, e logo depois no título.
A primeira frase
mantém-se ou muda?
Não me lembro de alguma vez ter mudado
a primeira frase. Esta é já o resultado de um trabalho de seleção entre um vasto
leque de possibilidades. Por ser a primeira, tem de ser uma frase perfeita em
todos os sentidos. Pelo menos tento. As restantes sofrem, muitas vezes, tratos de
polé.
Evita ler livros
quando escreve?
Não. Invento tempo para ler, nem que
seja em sítios inusitados. Nem sequer receio sofrer influências de outros
autores. Nunca me desvio do registo de escrita selecionado para um romance.
Ouve música
enquanto escreve, ou prefere o silêncio?
Consigo trabalhar com ruído à minha
volta, em espaços privados e públicos, desde que ninguém interaja comigo. Prefiro
bandas-sonoras (de filmes, por exemplo).
Qual é a
sensação que fica quando termina um livro?
Se tiver a consciência de que
escrevi um romance com qualidade, fico com a sensação de que a vida é bela.
Este estado de graça dura menos de um mês; depois a vida, sem romance, deixa de
ter sentido, e a fome de escrita começa a apertar. Tornou-se um vício depois de
ter ganho o Prémio Literário João Gaspar Simões.
Trabalha em mais
de um livro ao mesmo tempo?
Não alinho neste tipo de
promiscuidade literária.
Escreve em casa?
Prefiro o aconchego do lar. Mas
sou bioadaptável.
O que não pode faltar
na sua mesa de trabalho?
Dicionário de Português e
internet.
Em que está a
trabalhar neste momento?
Estou a cinco capítulos do fim do
meu último romance. Como sou disciplinado, sei que estará pronto no dia 31 de Dezembro próximo. O título? É segredo.
Mas posso adiantar que é diferente de “O Fotógrafo da Madeira”. Em tudo.
Já deitou fora
muita coisa que tenha escrito?
Nunca me aconteceu. Guardo tudo: o
bom e o medíocre. Não tenho trabalhos incompletos, vitimados pela crise da folha em branco. Levo as
empreitadas até ao fim. Só desisto rendido à falta de qualidade.
Como dá o nome
às suas personagens?
Procuro nomes que tenham a mesma força,
ou fraqueza, das personagens
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