PRAÇA DO BOCAGE
Um livro… uma sugestão
09Sexta-feiraNov 2012
É nas noites frias e chuvosas que, deitado, viajo pelo
universo… com os meus livros.
Hoje fui conhecer a capital da Madeira – terra linda –
com suas belezas naturais… e “feridas” profundas que causam mais dores que
alegrias aos que lá vivem. Eu conto.
A vida – eu já o sabia – tem sido difícil para todos,
em particular para os mais pobres, para os que vivem do seu trabalho. Ontem
como hoje o desemprego, a emigração e o empobrecimento são verdades que não
carecem de demonstração, porque são reais e visíveis – com pequenas oscilações
intermitentes – e que não descolam deste nosso mal viver.
E é da vida das gentes do Funchal, no já longínquo
início do século XIX, que o autor – António Breda Carvalho – centra a narrativa
do seu último livro, O fotógrafo da Madeira, que pela qualidade
da escrita e pelo retrato original e fidedigno da época – escrita que
reconstrói o ambiente social, político e económico de então – merece a melhor
atenção.
A vida dos mais desfavorecidos – por oposição à boa
vida dos “fartos” –, a justiça – a que existe não satisfaz, porque injusta, a
que se anseia… tarda –, o bem e o mal, a liberdade religiosa, as relações de
poder instituídas e os seus interesses, os pequenos enredos, mesquinhos, os
jogos e as ambições desmedidas, a insaciável busca de protagonismo dos
mentecaptos, o sofrimento e a vida rude e dura da maioria, em desconformidade
com o prazer e a luxúria de alguns, são realidades descritas com uma
“transparência lúcida” e de forma inteligente.
E mesmo em tempos de escuridão, a vida também é feita
de relações de amizade, de amores e paixões, com ou sem sexo, de heróis e
vilões, de aparências, de intrigas e de jogos políticos que minam os valores e
os verdadeiros interesses que urge prosseguir.
Esta é uma terra de contrastes onde a cor e a dor
marcam o viver de cada dia.
Um livro a ler… sem qualquer dúvida.
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