Apresentação do livro A ODISSEIA DO ESPÍRITO SANTO


Ex.mo Senhor Dr. António Breda de Carvalho, digníssimo vencedor da quinta edição do Prémio Literário Carlos de Oliveira



Ex.mo Senhor Dr. António Ribeiro, aqui presente para fazer a apresentação da obra



Ilustres Convidados



Minhas Senhoras e meus senhores








Sejam bem-vindos à entrega do Prémio Literário Carlos de Oliveira ao autor de “A Odisseia do Espírito Santo”, livro vencedor da quinta edição do concurso cujo patrono é obviamente homenageado com esta sessão.



Se me permitem, começo por saudar o Dr. António Breda de Carvalho, assinalando o facto de ter nascido e residir no vizinho concelho da Mealhada, o que constitui motivo de satisfação acrescido relativamente à atribuição do prémio. 



Entretanto, agradeço-lhe desde já o seu testemunho sobre o livro e a experiência de escritor, dando a conhecer um pouco do modo como construiu a narrativa que o júri decidiu premiar entre as obras concorrentes.



Tendo em conta que essa narrativa se baseia em factos históricos abordados numa tese de mestrado do Dr. António Ribeiro, o facto de a apresentação de “A Odisseia do Espírito Santo” estar a seu cargo é seguramente uma mais valia importante no enquadramento da obra face ao estudo do contexto que lhe deu origem.



Muito obrigado, Dr. António Ribeiro, pela sua disponibilidade em vir aqui hoje partilhar connosco a leitura que faz de uma ficção construída em torno de factos que conhece em profundidade, no que será também certamente uma lição de história sobre realidades marcantes do quotidiano das comunidades no século XVIII.



Sobre a “A Odisseia do Espírito Santo” deixo apenas algumas breves notas, começando por destacar os fundamentos que justificaram a atribuição do Prémio Literário Carlos de Oliveira.



Faço notar que o júri invocou para o efeito “o original dispositivo narrativo que faz com que a história seja contada na primeira pessoa alternadamente por todas as personagens”, a “capacidade de efabulação” e “a riqueza da linguagem, que oscila entre a reconstituição do léxico do século XVIII e o dos nossos dias.”



É sem dúvida uma excelente síntese dos aspetos que tornam o livro tão cativante, nomeadamente a caracterização das personagens e os seus testemunhos num registo coloquial em que emergem os pontos de vista sobre as situações que confluem para o cerne da narrativa.



E depois o léxico em que sobressaem inúmeras palavras caídas em desuso e que o autor utiliza de modo particularmente bem conseguido, algumas ainda familiares de muitos de nós, outras nem tanto, ao ponto de justificarem a opção do autor em publicar um glossário no final.



Em “A Odisseia do Espírito Santo” percebemos o quanto a língua é um sistema linguístico dinâmico que não só apropria novos vocábulos em função da evolução das sociedades e da sua adaptação a novas realidades, como deixa que outros se percam no tempo, à medida que os referentes se tornam ausentes da vida das pessoas.

Percebemos também como a literatura os pode recuperar e neste caso, a meu ver, recupera-os muito bem, no sentido em que eles se revelam cruciais para o tipo de ambiente social que o Dr. António Breda de Carvalho reconstitui à medida que vai evoluindo a trama do romance, sempre contada na primeira pessoa (por cada personagem interveniente).



O autor evidencia efetivamente uma extraordinária capacidade para recriar o contexto histórico em que se movem as personagens e para retratar a sua mundividência e a sua linguagem característica.



Trata-se de um universo fechado, povoado dos fantasmas próprios de um período longínquo, mas que em alguns casos se arrastaram por muito tempo, um universo que visto à luz dos conceitos de agora não é compreensível, mas que reflete bem a natureza de algumas das condicionantes da vida em comunidade, o que confere ao livro uma apreciável dimensão pedagógica.



Destas considerações genéricas emerge a minha curiosidade sobre as motivações que levaram o Dr. António Breda de Carvalho a escrever este romance histórico no registo em que o fez e qual o seu enquadramento no âmbito da sua obra.





Dr. António Breda de Carvalho

Ilustres Convidados

Minhas Senhoras e meus senhores



Face ao motivo que nos traz aqui hoje, esta é uma ocasião em que faz sentido reiterar a aposta do Município de Cantanhede no Prémio Literário Carlos de Oliveira, no âmbito de um processo de intervenção cultural em que se preconiza a criação de condições favoráveis à intensificação do estudo e da divulgação da vida e obra do escritor.



A autarquia continua efetivamente empenhada no desenvolvimento de ações para motivar públicos de vários níveis etários e diferentes expectativas académicas e culturais, sobretudo os jovens, para a compreensão de um universo literário distintivo que tem também um precioso valor documental pela forma como desperta para uma realidade sociocultural característica do nosso território num contexto histórico específico.



A Gândara que surge nos seus livros diz respeito a uma realidade sociológica marcada por vidas sofridas, sujeitas às maiores adversidades, uma realidade de que já só subsistem algumas referências etnográficas, mas o indiscutível valor literário da sua obra narrativa e poética esse mantém-se intocável para além da evolução social que felizmente ocorreu.



Daí que a Câmara Municipal encara a promoção do legado de Carlos de Oliveira, como um dever no quadro daquelas que são as suas competências ao nível da dinamização cultural, processo em que, lembro, contámos sempre com o estimulante apoio da saudosa Dr.ª Ângela Oliveira e também das suas sobrinhas, Dr.ª Paula de Oliveira e Dr.ª Margarida Oliveira.



O nosso compromisso é o de continuarmos a honrar o legado de um autor muito justamente aclamado como um dos mais proeminentes escritores portugueses do século XX, potenciando o valor simbólico de uma literatura umbilicalmente ligada ao nosso território e acentuando nele, aos mais variados níveis, as referências aos lugares e aos contextos sociais que surgem na sua obra.



Acredito que essa é a melhor forma de honrar a memória e o valioso legado de Carlos de Oliveira.



A terminar, felicito o Dr. António Breda de Carvalho pela conquista do Prémio Literário Carlos de Oliveira, agradecendo a presença de todos e manifestando o meu mais vivo reconhecimento ao Cantemus – Coro Juvenil do Município de Cantanhede e ao maestro Augusto Mesquita a sua preciosa atuação.



Muito obrigado!


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